sábado, dezembro 03, 2005

noites

"...dou por mim, às vezes, a lamentar a minha situação numa espécie de resignada forma de aceitar o que tenho de enfrentar; outras vezes, quase entro em desespero por me sentir incapaz de resolver o problema; ainda noutras ocasiões, sorrio e enfrento... existem lágrimas por vezes porque apenas o amor me traz o sorriso... então, há sempre alguém que me segreda que há sempre outrém que está em piores circunstâncias... eu sei que isso não me alegra mas faz diminuir a tensão... então, recordo aqueles anos em que andei a acompanhar aqueles grupos de assistência aos sem-abrigo... recordo e sinto o frio que eles sentiam... recordo e vejo o sorriso deles ao receber a sopa quente, o pão, o leite, o cobertor e tantas e tantas outras coisas que lhes dávamos entre a meia noite e as 3 das madrugada aos fins de semana... recordo e vejo-os deitados nos vãos de escada, debaixo das arcadas, embrulhados em caixas de cartão, com a cara tapada para que o bafo da respiração os ajudasse a aquecer... recordo e vejo-os sós, de olhos brilhando nos meus olhos, e eu apenas estendia a mão para entregar o que podia entregar... a raiva instalava-se dentro de mim por não poder gritar ao mundo aquele sofrimento... a dor deles passava para mim por eu não poder fazer mais nada... ali ou aqui bem perto no meu Porto, nas ruas, nas praças, nos recantos, nos jardins... na verdade, o meu problema actual não é nada se comparado com aquele sofrimento... dei um pouco de mim naqueles tempos, naquelas noites em que descobri o meu Porto que desconhecia... amei a dor tentando minimizar a dor deles... naquelas noites aprendi que também era possível amar, sofrendo... naquelas noites aprendi o que não sabia ser possível aprender... hoje, num dia frio e chuvoso, lembrei-me deles e aprendi que afinal o meu problema é de somenos importância..."

7 comentários:

Mitsou disse...

Deixo-te apenas um abraço apertado e um beijo muito doce. Tu sabes porquê.

Anónimo disse...

Bom dia amigo Lobices.Deixo este pensamento para ti .

"Escuta o que a Sabedoria te diz dia após dia :que a vida é breve .Em nada é semelhante às plantas que renascem depois de serem podadas ".(LVII)

Omar Khappam


Carlota Joaquina

Um abraço

Anónimo disse...

Olá bom dia!
Ontem escrevi aqui um comentário que não ficou...sorri,isto que escreveste toca-me tanto,aperta-me tanto por dentro a alma,sempre...tenho que ter assim um derepentementemente para verter tudo o que me vai cá dentro...depois do cafezinho,com uma musiquinha pode ser que flua.
Sinto aqui a concialiação quase improvável entre pensar e sentir,emoção e razão...é bom,muito bom.
obrigada.
um beijo
uma flor
uma margarida

Anónimo disse...

Este seu agradavel texto fez-me por momentos lembrar um livro do Og Mandino. Beijinhos.

Maite disse...

Este seu texto fez-me lembrar (estou agora a ouvir na TV que há 930 pessoas sem abrigo em Lisboa) que sempre que damos algo recebemos em dobro.

Um abraço :)

Anónimo disse...

...ver e tocar...
...sentindo as mazelas da humanidade...
...ter e doar...
...oferecendo o pão,o sorriso,o afago da sinceridade...
...viver e compartilhar...
...sofrendo por não poder livrar da dor a quem amamos de verdade...

(Entrega,confia,aceita e agradeça...sempre!)

Me Myself And You. disse...

O AMOR MOVE MONTANHAS, NÃO É ASSIM?