"... havia apenas um silêncio todo ele verde formado por árvores frondosas, um cheiro a erva, a pinheiro, a eucalipto e o marulhar de um riacho com o bater compassado da água nas pedras soltas do seu leito... o silêncio também tinha asas; eram os pássaros que não distingo as espécies, um milhafre e quem sabe talvez uma águia... era um silêncio que também possuia a qualidade de ser tocado, bastava para isso, abrir os braços e inspirar fundo a plenos pulmões e sentir o seu abraço dentro do corpo beijando a alma... era um silêncio feliz porque me fazia sorrir e cerrar os olhos para o ouvir... um silêncio que também se via mesmo sem o olhar... o silêncio puro, alvo, cristalino, todo ele formado de muitas coisas que o tornavam único... tê-lo ali comigo era uma espécie de bênção e senti-lo ainda me provocava mais prazer... deixei-me ficar, ali nele deitado a usufruir a sua existência... de olhos fechados sabia-me fazer parte dele... senti-o penetrar-me devagar com suavidade e deixei-me embalar numa canção sem acordes mas que me deixavam perceber o porquê de tudo... ali, uma só molécula e eu fazia parte dela... um só mundo... um só ser... o sagrado estatuto de viver..."
segunda-feira, agosto 28, 2006
sexta-feira, agosto 25, 2006
brilho
"... hoje está um dia mais fresco mas ainda cheio de sol e esta noite foi de lua nova... não tenho luas nem sóis para vos dar, nem novas nem velhas, nem cheias nem brilhantes... tenho apenas palavras a tudo isso semelhantes porque encerram o voto sincero de um bom fim de semana para todos vós..."
segunda-feira, agosto 21, 2006
primeiro
"... havia uma necessidade enorme de estar lá... não era somente desejo, era mesmo imperativo, quase mais que obrigatório... mas sentia que as pernas não se moviam e os braços estavam caídos numa postura de desalento... deixei-me ficar assim ainda mais um momento... tentei, então, mais uma vez, caminhar naquela direcção e fiz um esforço enorme para conseguir mover um pé... sabia que nem era necessário ter fé, bastava mover o pé... senti que uma fina dor me percorria a coluna mas nem por isso deixei de tentar... era preciso ir, era preciso caminhar... no fim do caminho estava apenas a meta a atingir mesmo sem saber qual ela era; no entanto, era certo saber que estava no fim da estrada, no meio do arvoredo... olhei em frente, sem frio, sem aquele frio do medo... havia apenas uns braços abertos e um sorriso na face; e uns olhos brilhando... ouvia um som repetido, uma batida ritmada... esse som chamava-me, clamava por algo que eu não sabia ser o que era... num tremendo e último esforço a minha perna avançou e senti que a coluna se fixou... houve uma espécie de tontura mas o esforço valeu a força precisa para fazer avançar o outro pé... nesse momento senti-me cair mas não cheguei a tocar o chão... uns braços fortes enlaçaram-me e elevaram-me no ar... só muitos anos mais tarde vim a saber que aquele tinha sido o meu primeiro passo..."
sexta-feira, agosto 18, 2006
sejam felizes
.
apenas uma variedade que não conheço, uma das muitas que existem no meu quintal, com a finalidade de desejar um bom fim de semana a todos em geral
segunda-feira, agosto 14, 2006
busca
"... procuro em todos os poros do meu corpo a tua presença... vasculho a penugem que me cobre na busca de um traço teu, de uma marca deixada na selva do meu corpo... uso a mente na concentração do pensamento de todos os momentos vividos para os reencontrar em mim... uso a imaginação e penetro nas minhas artérias, nos meus músculos, nos meus tendões; tento ver as marcas que a tua estadia em mim deixou... minuciosamente, uso todos os meus sentidos: olho-me completo, milímetro a milímetro, cheiro-me, saboreio a minha pele e ouço o bater do meu coração, toco-me, acaricio-me... e vejo-te em mim, e sinto o teu cheiro a pétalas... o meu palato sente o sabor doce dos teus lábios, do teu beijo, do teu sal... ouço o sussuro das tuas palavras nos meus ouvidos e abandono-me aos teus devaneios... são pequenos nadas do meu dia a dia na procura de ti sempre presente em mim... são pequenos nadas da minha vivência enquanto tento olvidar os pequenos nadas da nossa ausência... olho-me sempre e vejo-te... e a tua presença é constante mesmo quando não estou a teu lado, mesmo quando não somos um só e nos fundimos de tal forma que tudo o que és fica indelevelmente gravado em mim..."
sexta-feira, agosto 11, 2006
preencher
"... há um desejo enorme de preencher este espaço que aqui se encontra à minha frente... uma vontade quase sem freio pois não encontro nada que me impeça de o fazer, de preencher este espaço... porém, é preciso encontrar as letras e com estas formar as palavras, palavras que possam dar um sentido à concretização desse mesmo desejo... não olho à minha volta pois o espaço que me rodeia é já demasiado conhecido; conheço todos os cantos como também conheço o espaço que tenho à frente dos meus olhos... baixando um pouco o olhar, vejo (engraçado) quatro dedos: o indicador da mão direita e o polegar da esquerda ao lado dos seus colegas o indicador e o médio; é este que bate nas teclas com a companhia agressiva do indicador direito; os outros encontram-se encolhidos e nada fazem para encurtar esta tarefa; nem sequer se espreguiçam nem tentam obstar as dificuldades do hábito de longos anos de "teclagem"... escrevo sempre e apenas com 2 dedos... é deles que me saem as palavras de dentro de mim... foi com eles que, mais uma vez, preenchi este terrível espaço que estava aqui à minha frente... agora tem letras que formam um pequeno texto que mais não serve do que vir aqui deixar-vos a minha amizade, a minha presença e desejar a todos vós o melhor, no que quer que seja o vosso desejo... e que a luz, a paz e a harmonia vos preencha como estas letras preencheram este espaço que estava em branco... e, um bom fim de semana..."
segunda-feira, agosto 07, 2006
tido
"... queria descrever o meu tempo... mas não posso ou não sei ou não consigo mas sei, isso não nego, que o trouxe comigo... comigo veio o sorriso e o sabor de tudo... veio o abraço, o beijo, o toque, o enlace, a fusão, o auge, a doce e terna sensação... comigo veio o tempo dividido em pequenos nadas, nas gargalhadas, nos olhares, nos ditos e nos sussurros... comigo veio o espaço preenchido dos pequenos nadas que formam o todo... comigo veio o olhar, o cheiro, o sabor, o sentir, o tocar; trouxe tudo comigo; nada lá deixei ficar... fica de reserva neste espaço de tempo que medeia entre os tempos de se estar, de se ser, de se deixar de sermos para se ser apenas o par... fica comigo, a meu lado ou ao meu redor ou dentro de mim... tanto faz... é tão leve e tão serena a suave sensação de paz..."
sexta-feira, agosto 04, 2006
rampa
"... existe uma forma natural de estar na vida: é vivê-la, vicenciar momento a momento o que nos é concedido partilhar com o Universo e este connosco... porém, nem sempre é fácil e a vida não é tanto aquilo que desejaríamos que fosse e, por vezes, desperta o desespero, a inquietação, a ambiguidade, a incerteza, a negativa forma de se viver a vida... mas talvez esta forma negativa seja o contraponto da positiva forma de se estar nela; talvez só assim se consiga viver, ou seja, num equilíbrio de formas, de estilos, de forças e de quedas, de dores, de angústias... a vida é um conjunto enorme de imensas coisas que não conseguimos ter ou sentir na sua totalidade; uns têm uma forma de vida, outros têm outra forma; somos diferentes ainda que iguais ou somos idênticos ainda que diferentes... e, às vezes, também eu próprio tenho as minhas alegrias e em termos de equilíbrio tenho, por vezes, as minhas tristezas... talvez a vida seja mesmo isso e sabermos, quando estamos alegres, que a tristeza também existe e que quando estamos tristes sabermos sorrir porque temos a consciência que a alegria também é um facto... vivemos, assim, numa balança instável de emoções, a tal forma binária dos dias "zero" e dos dias "um" fazendo de nós um pouco a forma como trabalham os computadores... talvez sejamos também um deles com algo mais cá dentro: uma Alma, um Espírito, um Coração, um Amor, um Desejo, uma Sensação de sermos o que somos e que podemos ser felizes mesmo quando estamos infelizes; que podemos sorrir mesmo quando se chora... faz bem e é preciso gritar às vezes... não pensem que tudo são rosas: elas são belas porque têm espinhos. A vida é bela porque existem gargalhadas e lágrimas, porque existe o doce e o amargo, porque existe o poder para mudarmos sempre que quisermos e fazermos de um dia "zero" a rampa de lançamento para um dia "um"... hoje, vesti o meu fato espacial e estou na rampa de lançamento... a contagem decrescente continua e a mudança está ali à minha espera, num abraço, num beijo quente, num doce sabor a tudo, no "um" completo que me faz feliz... também vos desejo a todos esse dia um..."
Subscrever:
Mensagens (Atom)