“… Agacho-me com facilidade porque as calças de ganga assim o permitem; no entanto, os sapatos estão enterrados na areia mole da última chuva que caiu… estendo a mão e sinto-a fria mas de textura admirável… afago-a e sinto os seus minúsculos grãos passearem-se pela minha mão… é uma sensação agradável mas ao mesmo tempo faz cócegas e sinto necessidade de a retirar… mas não: enterro os dedos na areia fina e rodo-os o mais que posso para sentir já não a finíssima camada mas a dureza da mais dura que existe por debaixo… tiro os dedos e a mão traz um punhado de terra, terra granulada pertença das águas do mar… olho-a bem e permito que os dedos da minha mão se abram e os grãos deslizem… o vento sopra de norte um pouco forte e não consigo visionar a queda daqueles minúsculos pedaços do meu mundo, do mundo em que habito e que está sob os meus pés… o vento então, leva-os para bem longe de mim… mas, ao mesmo tempo que os vejo fugir sorrio porque imagino que para além dali onde estou, aqueles pedaços de nada e de tudo levam um pouco de mim para outro lugar… vagueio, pois, ao sabor do vento e sei que uma parte de mim irá viajar para bem longe; aqueles grãos levam as minhas impressões digitais, o meu cheiro, parte da minha pele, parte do meu ser, daquilo que fica aqui e agora e que, ao mesmo tempo, voa para outro lugar… o prazer de me saber, afinal de contas, presente mesmo fora de mim…”
9 comentários:
Soprados pelo vento, varridos pela chuva, mas cintilantes numa pincelada de sol, esses grãos de areia viajam para longe. Contados à chegada, são exactamente vinte e três.
Um beijo dos nossos. Especial, hoje.
ASAS DE VENTO
"(...)
Sou charneca sou do monte
Brisa a correr ligeira
sou água fresca
A correr na fonte
Sou rosada
Roseira (...)" «Amália Rodrigues»
Coisas antigas de gente antiga...mas sempre ouvi os mais velhos
Abraço
Paulo
que as tuas energias e impressões se espalhem e tudo será mais sereno a essa passagem. abraço de admiração (continua a espalhar jardins à tua volta, fazes-nos bem e isso é admirável).
Gostei muito desta "viagem sublimada". Que consolo nesse pensamento, que tranquilidade nesta forma de encarar a vida. Ainda não cheguei lá.
Também gostei da foto. Para mim, o mar sempre.
Um beijinho. Bom fds.
Olá Quim!
Mais um belíssimo post.
Tal como a Pamina também ainda não consegui encontrar toda essa tranquilidade.
A foto é lindíssima - areia e mar, duas das minhas paixões:)
Um beijinho e bom fds.
Será que um lobo brasileiro diz "Ui" em vez de "Oi"?
E um lobo italiano diz "Tchauuuuuuuuu" em vez de dizer Adeus?
Um grão de areia uivando, no mar infinito da alcateia global...
O mar remexido, cheio de espuma branca, as rochas todas inclinadas na mesma direcção e a areia molhada… e sempre a figura humana, a tentar misturar-se com todo este extasiante quadro… procurando integrar-se na natureza… e querendo deixar de si o que voa e se espalha e cria saudade de todas as recordações… e assim, também eu vagueio, muitas vezes, perdida entre as letras, palavras e de olhos na imensidão que não alcanço…
Muito, muito bonito!
Um abraço e bom fim de semana.
Lobices
Já não vou dizer nada sobre o seu post porque iria repetir o que já foi dito :)
Estive a fazer as contas e se não me engano (sou péssima a matemática:) faço anos 4 dias antes de si.
Bom fim de semana
Com este texto lindo e a música tão suave, quase sinto o ar da praia, se ao fundo se houvisse o marulhar das ondas ficaria perfeito.
Abraço e muito boa noite.
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