quinta-feira, setembro 30, 2004

transformar

...peguei em mim mesmo e sacudi-me; esperei que saisse algo que tivesse a mais; mas não caiu nada de mim; continuei a sacudir e ouvi algo indefinido; era como que uma recordação dentro da minha alma ou do meu coração; como saber?... Peguei então em ti e despi-me de ti; tirei-te de dentro de mim. Coloquei-te ali ao meu lado e olhei para ti. Foi nessa altura que me senti nú. Mas não consegui vestir-te de novo. Já não cabias dentro de mim. Que fazer então?
...sonhos destruidos, caminhos não percorridos ou teriam sido mesmo percorridos? Como é que não reconheço se os percorri ou não? Confusão dentro de mim.
...sacudo as memórias mas a força centrífuga da saudade as mantêm aqui dentro. Fico atento.
...espero olhar em frente, não me sentir demente, talvez solidão somente; eternamente aqui ao meu lado presente.
...arrumo os fatos que me vestem a alma e com calma procuro novas roupas que me tapem a nudez que me enregela o corpo, como nado morto, triste e absorto...
...quero ressuscitar, quero simplesmente me transformar, vestir-me de novo, olhar para o espelho e sorrir, cantar, bailar; pegar em mim e voltar a caminhar qualquer que seja o caminho que tenha ainda de palmilhar...
...é que os pés, mesmo de barro, ainda são os mesmos; cansados de andar, é certo, mas os que sempre me sustentaram de pé nesta tremenda e actual falta de fé...

quarta-feira, setembro 29, 2004

serenidade


...para descansar a alma quando sentimos necessidade de paz...

terça-feira, setembro 28, 2004

grita

...amem-me com força, com amor, com dor, com sol, com alma, com ódio, com riso, com choro, com doçura, com mel, com fel, com frio, com mãos, com corpo, com olhos, com línguas e olfactos...
...amem-me com dorso, com costados, com palmas, com gelo ou com fogo...
...amem-me com garra, com pena, com ternura ou com censura...
...amem-me um minuto, uma hora, um dia, uma vida, um momento ou uma eternidade...
...amem-me no ventre ainda ou já com idade, com siso ou indeciso, com chuva, com vento, com água, com sal...
...amem-me por um momento que seja para que esse momento perdure na vida ainda que essa vida não perdure nesse momento!...

segunda-feira, setembro 27, 2004

templo


...aqui estiveram os Templários... aqui "vive" a história não contada...

domingo, setembro 26, 2004

deuses

...deuses fecundos e deuses infecundos
... que de amor se preenchem e que de amor se entregam
... estados puros que nos abraçam em momentos de paz onde o líbido não reconhece o corpo e a alma nele se desfaz
...nesse puro amor de ávidos sentidos onde não existe a dor senão apenas a do despojar de tudo, onde o nada surge no seu esplendor como uma flor, abrindo-se e fechando-se ao mesmo tempo
...nem só de viriatos vive a mulher; a loucura é preciso, a insanidade está no siso e no riso
...apuram-se as palavras para designarem amar; amar não se designa, amar não se resigna, amar não se digna, amar nem sequer é uma insignia, amar é um estado de alma onde, na verdade, se fundem os viriatos que nem são homens nem mulher
...são apenas o desejo de o ser...

sábado, setembro 25, 2004

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...porque gosto de rosas e porque esta é especial...

sexta-feira, setembro 24, 2004

caminhar

...caminho por espaços vazios; sem ventos nem ondas de mar ou de areias; caminho por loucas miragens de sonhos que anseias; caminho por calçadas de granito frio; duro, mas dentro dele, como ouro puro, a força da sua própria grandeza; caminho com leveza, por vielas escuras, nuas, de ténue luz duma varanda; caminho por onde não se anda; caminho por rios de água rasa, onde o sol brilha no coração que abrasa; caminho na direcção do nada, onde tudo se apaga num instante de beleza como uma estrela quando morre na sua própria incerteza; caminho sem saber por onde e por mais que procure, não diviso luz; caminho somente porque amo, sem saber porquê, sem saber o porquê, sem saber que a loucura me sufoca e que por detrás desta insana caminhada, estarás sempre tu, mulher amiga, meu amor e minha amada!...

quinta-feira, setembro 23, 2004

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...um tapete amarelo e verde a contrastar com o fundo desta página...

quarta-feira, setembro 22, 2004

outono


...hoje começa a minha estação favorita...

terça-feira, setembro 21, 2004

boletim clínico

...a "doença" invade o nosso País; a todos os níveis; não vejo antídoto que sirva; é a educação, é a saúde, é a justiça, é as finanças públicas, é a convergência, é a direita, o centro e a esquerda, é o medo que se instala lentamente em relação a um futuro que ninguém quer crer que um dia vai ser negro para os nossos filhos e nossos netos...
...a "doença" invade o nosso País; a todos os níveis... é preciso um milagre, talvez ainda existam milagres por aí... alguém tem um que se veja ou que se venda? Não importa o preço a pagar, só que ninguém está disposto a pagar um preço...
...a "doença" invade o meu País...
...nada mais me resta que ir visitar o meu cão que ainda está internado na enfermaria da clínica veterinária... sim, ainda há clínicas veterinárias neste País para tratar dos nossos animais...
...fui vê-lo... sorriu (sim, os cães sorriem), levantou-se lentamente e dei-lhe a minha mão a cheirar... encostou o focinho e a narina na palma da minha mão e fungou, fungou como que tentando falar... abanou o rabo e voltou a deitar-se... o tubo do soro ainda estava direito... ele não o tinha retirado como que talvez sabendo que ali residia a sua ligação a este mundo infecto onde ainda há quem ostensiva e conscientemente passe com o carro por cima de um animal e não pare; poderia ter sido uma criança a atravessar a rua; pergunto, que teria feito?
...o meu cão está, segundo dizem os Veterinários, bem e deve ter alta hoje (sim, que isto de ter alta não é só para nós)...
...a "doença" invade o meu País...
...resta-me visitar o meu cão!

segunda-feira, setembro 20, 2004

animais


...o meu amigo Black acaba de ser atropelado; está em observações aqui numa Clínica Veterinária que, por sorte, fica mesmo ao lado... local onde ele costuma aguardar as "visitas" acompanhando os "doentes"... tem o mau hábito de estar deitado na estrada obrigando todos os condutores a se afastarem dele... mas hoje houve um outro animal conduzindo um veículo que passou ostensiva e conscientemente por cima dele... pior, o carro saltou por cima do corpo do cão e o animal que conduzia nem sequer parou... o Black que latia a quase todos os carros que passavam, está neste momento silencioso aguardando com um brilho triste nos olhos o desfecho... hoje chorei...

domingo, setembro 19, 2004

entrada


...entrando na dimensão do mundo da fantasia...

sábado, setembro 18, 2004

open mind


...tal qual um cérebro e seus hemisférios em mente aberta...

quinta-feira, setembro 16, 2004

dualidade


...onde o abraço se mistura com a ternura...

quarta-feira, setembro 15, 2004

janela


...sala de leitura ou de enamoramento ou apenas de desejos...

terça-feira, setembro 14, 2004

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...uma janela virada para o Douro... o meu rio...

segunda-feira, setembro 13, 2004

guincho


...pela marginal a caminho de Sintra... onde o vento mora...

domingo, setembro 12, 2004

visão


...arco de cores garridas, majestosas, atrevidas...

sábado, setembro 11, 2004

never more

...lembrar o 11 de Setembro...
...a guerra nunca trará a paz...
...as esperanças mutiladas...
...centelhas de vida apagadas...
...rosa cravada pelo espinho...
...que não exista o ódio...
...porque amar é o caminho...

sexta-feira, setembro 10, 2004

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...foi, é e será sempre o meu Porto...

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...onde estou; onde continuo a querer ser...

quinta-feira, setembro 09, 2004

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...tão somente erva do meu quintal, secando-se ao sol matinal...

findo

"Ontem disseste-me adeus e não mais senti bater o meu coração.
Ontem balbuciáste: "Tudo acabou" e uma angústia enorme começava para mim.
Ontem separámo-nos sem uma palavra e chorei em silêncio.
Ontem saudáste-me: "Tornaremo-nos a ver amanhã." e nenhum amanhã virá para nós.
Esta hora que tanto receávamos, desde o nosso primeiro encontro, chegou ao fim, e irá transformar mais a minha vida do que a tua.
Levarás contigo o sonho da minha manhã e eu ficarei apenas com o adeus desta tarde.
Esquecerás o meu nome e o meu rosto e eu recordarei tão somente os nossos dias felizes.
Em breve não saberás sequer que existo, mas cada uma das minhas horas terá a marca da tua saudade.
Porventura encontrar-nos-emos ainda: outras dores terão cancelado outros amores.
Nesse caso, olhar-nos-emos como estranhos e não nos reconheceremos.
Mas, provavelmente, não nos voltaremos a encontrar e nenhum amanhã voltará para mim...e jamais conhecerás a minha dor.
Partiste e a minha vida é um deserto.
Mas, onde quer que estejas, aconteça o que acontecer, quem quer que ocupe o meu lugar, sabe que o meu coração ainda não te disse adeus...
E o tormento que me deste, ninguém mo poderá tirar!..."

quarta-feira, setembro 08, 2004

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...como as rosas do meu quintal também choram...

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...aqui...onde sou...onde quero estar...

sons

Foi numa altura em que ainda se conseguia lá ir com o carro; entrei pela porta principal e comecei a subir até ao mais pequenino sítio para se poder estacionar. Saí e o silêncio estava lá à minha espera. Havia um pouco de vento mas não sei de que quadrante. Fiz o restante do percurso a pé, até à zona mais perto do castelo, das muralhas.Olhei em frente e em volta. Fiquei fascinado. Nunca tinha visto as costas aos pássaros voando. Por baixo de mim e à volta das muralhas, os pássaros voavam abaixo do meu nível de visão. Era um enorme prazer o que a minha vista desfrutava.O silêncio estava ali ao meu lado.Inspirei fundo e retive o momento para que ainda hoje me lembre dele como se o estivesse a viver agora.Há imensas rochas por ali. Imensa memória ali cravada na pedra, ali forjada em segredos de distância e de histórias que se conhecem mas também das que se não sabem; memórias de tempos imensos de glória e de luta.Olhei a rocha e coloquei as palmas das minhas mãos na firme solidez fria das pedras; o que senti não foi “daqui” mas também não sei de onde foi; senti algo que me percorreu a alma e a minha memória encheu-se de imagens.Inspirei novamente e de novo guardei o momento para o rever quando o quisesse viver de novo (o que estou a fazer agora).O silêncio tinha som e imagem e esse som me transportou a tempos remotos para lá de tudo o que eu podia conhecer; as imagens, essas, foram nítidas e aqui estão, impressas para todo o sempre, num recanto de mim.O vento sentia-se sem se ouvir e as minhas mãos começaram a aquecer; um formigueiro enorme me percorreu os braços, o tronco, a bacia e desceu pernas abaixo até que senti meus pés ferverem; estava ali debruçado sobre a rocha ouvindo o passado, sentindo como se ele ali estivesse presente dando-me a conhecer o que não tinha vivido.A sensação tornou-se-me límpida e fresca e um sorriso se me aflorou nos lábios.Retirei as mãos da pedra e comecei a descer para o carro.Acabava de viver algo de inesquecível. Tinha pura e simplesmente viajado no tempo, tinha ido ao passado, tinha recuado uns séculos e o som e a imagem ficaram comigo.Apesar de tudo, senti paz.Fica ali, no Alentejo, mesmo perto da fronteira e chama-se Marvão.Preciso de lá voltar.

terça-feira, setembro 07, 2004

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...onde a paz se conjuga com a natureza...

sinto

Sinto que não sinto o que queria sentir; não sei se o que sinto é ou não o sentir do que sinto que não sinto sentir-se dentro de mim; desespero na angústia angustiada de me ver assim, nú, despido do nada, vestido numa pele cansada que cobre um corpo cálido mas tremente não de frio mas de quente; de um calor sem dor mas abrasador. E é este frio que me aquece num conforto dolente que me adormece neste deambular lento que até parece que fenece como flor varrida ao vento que não se esquece. Sinto que minto a mim mesmo na procura de não sentir o que sinto e não queria sentir. Vomito então o que quero esquecer mas sufoco no próprio vómito. Desejo indómito que não pára nunca de me dominar. Onde estás força de vontade de gritar? Onde estás prece urgente de abalar? Onde estás desejo prenhe de tortura? Já não sinto. Tenho de ir. Preciso dormir.

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...belas formas de água corrente...

subentendimentos

Há uma coisa que é necessário definir: todos nós, quando escrevemos (ou falamos), dizemos coisas reais e dizemos coisas irreais.Fazemos um misto de retórica vã e não só; colocamos muito de nós e também muito daquilo que vai no nosso imaginário; não só falamos do que sabemos como também falamos do que não sabemos mas, principalmente, falamos com a Alma, com aquilo a que eu chamo de "desejo".Fala-se do que "desejaríamos" que assim fosse.Quando não "foi assim" então fala-se do desejo de não ter sido como desejáramos que tivesse sido.Somos todos duma ambiguidade angustiante (quer se queira admitir isto ou não); mentimos a nós mesmos para nos desculparmos de tudo só que nos esquecemos que não somos culpados de nada.A ilusão não está em nós mas em tudo o que nos é dado como perceptível, ou seja, o que nos rodeia é que pode ser ilusão; nós não somos uma ilusão.A ilusão gira à nossa volta e tenta-nos de forma a que se perca a noção do que é a verdade e do que é a mentira; ficamos, então, apenas com o que temos; e o que é que temos? A esperança de estarmos enganados ou de nos termos enganado e de que há ou vai haver solução.Desesperadamente procuramos resolver esse problema.Doutras vezes, desistimos e deixamos que tudo "morra" no limbo do esquecimento; no entanto, esse limbo é também ele mesmo uma ilusão pois o esquecimento não é viável; não podemos "cortar" ou "apagar" a memória. E esta é a que nos devora; engole-nos por vezes duma forma assustadora e noutras vezes duma forma mais suave mas não deixa nunca de nos engolir.Somos como que absorvidos por esse buraco negro que é a lembrança; lembramos tudo, principalmente o bom porque subsconscientemente escondemos num recanto da nossa memório tudo o que foi mau; até porque nunca tivemos a culpa do mal ou do mau acontecido. Somos uns eternos inocentes.Fazemos assim, ao longo da vida, exorcismos aos nossos demónios em vez de lançarmos louvores aos nossos anjos; passamos uma vida inteira a lamentar o inlamentável em vez de nos alegrarmos com tudo o que não deve ser esquecido. E tudo, tanto o bom como o mau, deve ser contabilizado na nossa passagem por esta dimensão do aqui e agora.E só há uma forma de se "conviver" nesse estádio de vida: é aceitar o que nos é dado viver; é aceitar o que nos é dado pois nada daquilo que "temos" é nosso; foi-nos concedido passar por isso, foi-nos concedido vivermos nisso, foi-nos concedido vivenciar determinados factos, factos estes que serão única e exclusivamente nossos e de mais ninguém; mais ninguém no universo sente o que eu sinto, mais ninguém no universo sente o que tu sentes.Somos seres únicos, individuais e totalmente imperfeitos. Vamos a caminho da perfeição mas que tarda em chegar. Vamos ter muito que caminhar ainda até conseguirmos a espiritualidade do ser.Porém e como ainda somos imperfeitos é-nos "concedida" a capacidade de "chorar".É por isso que nada nos satisfaz.É por isso que buscamos a felicidade (quando ela está aqui, dentro de nós).É por isso que sofremos.É por sermos ainda imperfeitos que não sabemos (ainda não aprendemos) aceitar.No que me diz respeito, tento duma forma lenta mas sistemática, tentar aceitar mas, na verdade vos digo, que não é fácil e, por vezes pois, preciso de "gritar" e de usar a tal forma de equilíbrio que me permita lentamente sentir o caminho que piso numa caminhada que sei tenho de fazer, sem olhar para o caminho mas apenas com a vontade enorme e grandiosa de caminhar.

segunda-feira, setembro 06, 2004

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...paradisiaco...

cativar

Não, não fui ao dicionário ver o significado da palavra do título deste post; nem vou. Tenho uma ideia e julgo não estar muito longe da verdade ao pensar que ela quer dizer "prender sem prisão". Ficar cativo de algo é ficar "preso" sem se estar "preso"; é apenas a noção de se sentir bem por algo que provoca essa sensação.Há, nesta blogosfera (nome pomposo para designar o conjunto de blogs nesta esfera de acção que é a internet) blogs que cativam e blogs que não nos dizem nada; há blogs individuais e blogs colectivos; há blogs com aceitação de comentários e blogs que não os aceitam; há blogs de poesia, de prosa, de imagem, de tudo um pouco criando um universo interessante e novo neste novo mundo que temos à nossa frente e que nos abre as portas e a quem abrimos as portas.Existem blogs que nunca visitarei pela simples razão da sua imensidão! São tantos que nunca chegarei a ter tempo para os visitar; são um pouco como os livros: nunca os lerei todos mesmo que nada mais fizesse na vida.Existem blogs que visito diariamente, uma vintena, penso e depois com mais vagar visito outros e ainda faço a navegação de link em link na procura de algo que ainda não saiba. E tanta e tanta coisa que não sabemos!Este mundo é maravilhoso.Mas perigoso!Tentador!Mas gostoso!Traidor!Mas venturoso!Feito com amor!Mas doloroso!Fiquei cativo de quase todos eles.Gostaria de cativar alguns.

domingo, setembro 05, 2004

saudades

Tenho saudades tuas. Queria ter-te aqui comigo, a meu lado, de mãos dadas ou de olhos nos olhos. Cingir-te a cintura e apertar-te contra mim e sentir teu corpo. Desejar o teu desejo. Ouvir teu coração bater com a minha face sobre o teu peito. Beijar-te a boca e saber-me dentro de ti. Sentir-me mais uma vez como as muitas que senti.Tenho saudades tuas.Chamar pelo teu nome. Ouvir a minha voz pronunciar esse som e saber-me respondido com o teu sorrir. Estar onde estás e saber-me contigo, aberto de mim para te receber em plenitude. Entrar no teu ser e saber-me lá residente, não ontem nem hoje mas, sempre.Perder-me no teu labirinto e jamais encontrar a saída; viver os caminhos e as esquinas que se cruzassem à nossa frente e deixar de conhecer o tempo que nos cerca; olvidar a dor da ausência do teu doce amar.Tenho saudades tuas.

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...porque amar é preciso...

despedida

Acabo de chegar de um lugar indeterminado; não o sei localizar; fica algures na minha memória, já um pouco esbatida pelo tempo; gastei muito do meu tempo a lembrar o que não deveria ter sido recordado. Mas o arrependimento não trás nada de novo, apenas revolve o velho e não deixámos de ser o que somos, apenas almas errantes neste mundo de contrastes e de negações. Somos apenas e tão somente os "dejectos" dum mundo imperfeito. Não nos foi dada a possibilidade de esboçar a nossa própria vida e assim temos de nos contentar com os constantes ensaios que fazem de nós, indeterminando a solução final.Perdemo-nos na amálgama do tempo e da insanidade.Já não somos quem queremos ser.Somos apenas o que nos "dão" para ser.Permitem-nos viver de memórias e de factos que de novo se transformam em lembranças.Mas, lembrar para quê? Para sofrer? Para verificar que afinal de contas de nada serviu o esboço que de mim fizeram em constantes ensaios que a nada me levaram? Apenas à negação, só me levaram à negação.Não sei quem sou. Talvez nem queira saber: Não foi para isso que aqui vim; vim a este mundo para ser feliz, disseram-me um dia; e eu, parvo, acreditei.Vivi correndo nesse sentido; esbocei sorrisos e ensaiei risadas. Tropecei, caí mas de novo me levantava. O horizonte estava sempre perto e me bastava estender a mão; a ajuda nunca me era negada; acreditei que o esboço que de mim fizeram em alguma coisa de bom se haveria de tornar, um dia, quando não sabia, mas haveria de me realizar.Engano. Puro engano. Quando dei por mim estava caído, só, perdido, fendido em mil pedaços de mim, dorido de dores que não imaginava existirem.Mesmo assim olhava em frente na expectativa de que o esboço que fizeram de mim, depois de tantos e tantos ensaios, me permitissem olhar e sorrir de novo. Fiz isso muitas vezes. E havia sempre uma mão, ali, expectante, sorrindo para mim (engano). Para que foi que me sorriram? Porque me enganaram? Porque me disseram que sim? Porque razão me arrastei até aqui?Porquê?Que ganhei eu?Derrota após derrota?Claro que ganhei muitas batalhas, claro que sorri muitas vezes, claro que dei gritos de espanto e de prazer, claro que sim, mas, para quê? Para chegar a este fim?Para verificar que tudo o que vivi foi uma dramatização de mais uma história igual a tantas outras histórias de amor e sofrimento?Foi para isso?Foi para isso que me trouxeram até aqui?Foi para verificar que "isso" não existe? E, o que é o "isso"? O "isso" é um sarcástico riso dum engano simples mas preciso; dizem-nos: Vai e sê feliz, foi para isso que aqui vieste. E eu vim, olhando, sorrindo, esboçando e ensaiando o que poderia vir a ser e a ter: um amor, o amor!Amei e fui amado.Quis ficar pela simples razão de ter gostado. Então amei e fui novamente amado e numa infindável sequência de vidas eu percebi que estava a ser traido pelo esboço que fizeram de mim; o ensaio não tinha tido ensaio-geral; o pano subira para a representação da vida e eu não sabia o papel.Destruiram-me, logo ali, logo à partida.Negaram-me a possibilidade de estudar melhor as deixas e as palavras, os tregeitos e a forma de colocar o corpo no palco da vida; o esboço havia sido mal concebido; o ensaio não havia servido de nada.
Não havia ponto.
Não havia nada. No entanto, pensei que havia tudo e de nada me servi a não ser da minha inadaptação ao papel. Fui um mau actor
As lágrimas caiem-me agora e ninguém as vê; só eu as sinto aqui ao meu redor; os olhos se me toldam numa profunda mágoa e a tristeza me invade.
Quis amar e ser amado.
E, sou-o!
Para quê?
Onde é que ele está? Aqui, ao meu lado? Ali, depois daquela esquina? Depois, um pouco mais para além do horizonte? Ou a seguir àquele arco-íris colorido de vida mas que nada mais me traz para além dessas mesmas cores.
Isto não é um grito.
É para dizer que não me contratem mais; não há esboço e ensaio que cheguem para me reconstruirem de novo; a "argamassa" foi totalmente utilizada quando havia um sorriso, quando havia riso e olhos brilhantes.
Já não sei o papel de cor e já não consigo ler.
No entanto, o amor não precisa de esboços nem de ensaios; no entanto, o amor não precisa de saber o papel, nem de ponto, nem de palco; o amor precisa de actor, de alguém que grite que está vivo, que ainda não perdeu a única "coisa" que tem para dar e isso está ainda dentro do meu coração, ainda pulsa e me diz que é, que existe, que sente, que vibra.
Grito, no meio de uma lágrima escorrendo sobre um sorriso, que por muitos esboços e ensaios, eu ainda o sinto e que esse amor (latente, vivo) não acabará nunca, morrerá comigo, levá-lo-ei para onde eu for, será presa de mim mas não estará preso em mim, será livre de ser o que tiver de ser, será o advir.

início

...o blog "lobices" já existe; tem corpo e alma no Sapo. Porém, o Sapo está muito sapo e pouco principe e estou a ficar triste por isso; assim, decidi mudar de casa...
...aos poucos irei postando aqui toda a "mobília" e depois, criar novas coisas e dispor os móveis de outra forma; não sei, talvez a mesma alma num outro corpo...
...vou, lentamente, mudar de casa

sábado, setembro 04, 2004

mudanças

...pronto
...abri esta nova casa mas, e agora? Quais os primeiros móveis a trazer para aqui?
...não vai ser tarefa fácil
...iremos aos poucos
...para já uma imagem de ternura...