Basta ficar em pé, deitada,
Desperta, adormecida, de qualquer jeito,
Para recebe-lo.
Ele chega de qualquer parte, do horizonte,
Da noite, da semente das estrelas.
Vestido de vento,
Suas brisas esvoaçam...
Dos lábios emanam chamas perfumadas
E me beija na testa e me marca
Com gravação de candura
Se está na Grécia, ao redor de Safo,
Ao ouvir meu chamado, dali ausenta-se
Suas mãos desabam sobre o meu corpo
Orquídea de carícias em espiral.
E me afaga por dentro.
Alcança cada princípio da raiz dos meus cabelos,
Desliza até a guia dos meus pelos,
Imanta-me e o sangue arrepiado vai e vem.
Tudo gira mas o tino não se desvia.
Nada se obstrui.
A fronte desvela sua aurora.
Ele está na órbita da minha cabeça,
Sua sombra pousa luz nos meus ouvidos,
No nariz, nos olhos; amadurece minhas faces;
Passa pelos dentes esmaltando o sorriso;
Esquenta a língua;
Fere o diapasão da voz;
Faz esticar a pele dos tambores;
Até o limite da atmosfera, confere a afinação dos pássaros;
A acústica das águas;
Repassa o som das conchas;
O silêncio das folhas orvalhadas,
As notas baixas do altivo bambu;
O soprano da haste do capim;
Os sons da chuva caindo por sobre a madeira verde.
Influi na intensidade das vagas na minha aura,
Na rebentação das praias,
Nas pororocas, na piracema;
No tempo propício ao acasalamento dos insetos;
E no cio das gatas no telhado,
Das cadelas cortejadas por matilha rabugenta;
Ajuda na distribuição do pólen para a fecundação das flores;
Despeja seu hálito na masturbação das virgens
E gradua a paixão das noviças, futuras esposas de Cristo.
Suave envolvimento ele permite ocorrer em minha nuca,
Por trás dos lóbulos das orelhas
Massageia meus tímpanos com seus beijos;
Suas aragens incendiadas roçam meu queixo;
Esticam-se até os lábios e esquece ali um beijo;
E desaba pesando como espuma,
Demolindo átomo por átomo...os ombros;
O torso; ateia fogo nos elétrons dos meus mamilos;
Golpeia as costas com a marreta de suas pétalas;
Jasmins, lírios, cravos, rosas e musgos rebentam pelos flancos.
Anticólica desenfernizo a barriga;
Põe lenha na cadeira do meu plexo solar;
Meu coração arfa, contrações da rede pulmonar;
Implosão nas costelas;
A espinha de cobra da coluna vertebral reveste-se de peçonha;
Insinuo sob a pele o rastro de um silvo;
Arremesso a bifurcação da língua como tênue fita de linfa;
Apoia a cabeça da esfinge na maciez pinicante da púbis
Quais cisnes enamorados, entrelaçam-se tesão e pênis
Dentro, cascata e vulcão, iceberg e vapor;
Humores do pântano, galvanização do prepúcio;
Por trás da aurora, súbito mal de parkinson
Concentra-se em minha nádega;
Glândulas fora dos eixos, planetas desalinhados,
Estou completamente a espera;
Adjetivos nas coxas, conectivos dispersos pela vulva;
Uma aliteração apressa o desabrochar do clitóris.
Encavala-se nos meus ombros;
E mexe, e suspira e mexe;
A fenda quente, punhal em mim...
Abre-se mais descendo pelas costas;
Num impulso deixo-me penetrar.
Desde minha coroa;
Como regresso ao útero.
A membrana circular avança pela testa;
Toldo os olhos, cedo um pouco devido ao plano
Inclinado do nariz;
Retorno da onda para ganhar impulso;
O avanço atinge a manhã envolvendo o pescoço.
A partir desse ponto serpente engolindo a presa;
O ato é mais doloroso, inspiração em histeria;
Dificuldade para se encaixar nas omoplatas;
E de graça me rendo pela santa experiência;
Porque já me reveste como casca e luz;
Fonte profunda, termas de súlfur, gás, pureza:
Adianta-se casulo retardando a borboleta.
Já está quase no umbigo.
Mastigação impossível da ausência de gengivas;
Só tecido e húmus;
Ruminação vagarosa da flor carnívora;
Efervescência da pélvis;
E o silêncio amplifica um concerto;
Engole a parte glútea.
Tritura as coxas; desloca as rótulas;
Eteriza fêmur e raízes venais, poros;
Macera canelas, amacia calos e calcanhares...
Para vencer o limite dos pés;
Inteiro me comprime e me espreme;
E jardins escapam pelo hiato das respirações;
O sol enlouquece desejando enforcar a noite;
Ele mexe o tempo, embaralha as estrelas;
Realizamo-nos selo mútuo;
Jamais me libertarei, e ele, por sua vez;
Está fadado a me possuir até que eu morra;
Quando enfim este meu amante me fará imortal;
A que ora engendro e adoro, servo fiel
De quem também sou cativa, senhora sua;
Com quem eu gozo e depois me abraço
Até brotarem glebas de fungos e lodo entre nós;
A luz envelhecida pousa em cada conjunção;
Abandonando a sombra de diamante em cada imagem;
E contas de cristal nos termos de comparação;
Este homem que para falar seu nome;
Preciso perfumar a boca e lustrar as botas da garganta;
Este homem para quem me guardo...
Este homem para quem me entrego...
Este homem, por quem sempre esperei....
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6 comentários:
O Amor pergunta à Amizade:
Mas afinal para que é que tu serves?
E a Amizade responde:
Sirvo para limpar as lágrimas que tu deixas cair.
Passa uma borboleta por diante de mim
E pela primeira vez no Universo eu reparo
Que as borboletas não têm cor nem movimento,
Assim como as flores não têm perfume nem cor.
A cor é que tem cor nas asas da borboleta,
No movimento da borboleta o movimento é que se move,
O perfume é que tem perfume no perfume da flor.
A borboleta é apenas borboleta
E a flor é apenas flor.
Alberto Caeiro
Passa uma Borboleta
Tal como uma borboleta também gosto de alçar voo e pousar em espaços como o teu onde tudo é emoção...
Dois...
Apenas dois.
Dois seres...
Dois objetos patéticos.
Cursos paralelos
Frente a frente...
...Sempre...
...A se olharem...
Pensar talvez:
“Paralelos que se encontram no infinito...”
No entanto sós por enquanto.
Eternamente dois apenas.
Pablo Neruda
É bom saber que estás de volta ;)
Um poema completo. Um poema que fala do amor, acompanhado da amizade. Um poema simplesmente completo. Boa selecção.
...Perco-me neste olhar...
...Sem noção de tempo ou lugar...
...Navego nas promessas deste sorriso contido...
....que ora insinua, ora desafia...
...que se faz presente e mesmo tão ausente...
...e tão do outro lado do oceano...
...traz lascivo atiço...
... deixando corpo e mente em rebuliço...
Fiquei encantada.
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